Cores, Cheiros e Sabores do Marrocos






E nos lançamos pela primeira vez à África do Norte, pela porta de entrada do Marrocos.

O clima mediterrâneo do norte vai aos poucos dando lugar ao clima semiárido e desértico do sul do país. A paisagem combina litorais, montanhas e deserto num país cheio de contrastes, com uma história e cultura muito interessantes, onde o tradicional convive com o moderno diariamente.

Como se um filme passasse diante de nós, vemos as árvores de argan, ou as argânias, com seus troncos retorcidos e espinhosos, uma jóia rara que só existe aqui e que oferece uma fruta preciosa para os marroquinos, devido ao óleo extraído de sua semente, usado na culinária e como cosmético.

Também passam palmeiras, figueiras, carvalhos, oliveiras, cedros, outras árvores, cujos nomes desconheço, e as famosas tuias, cuja valiosa madeira é matéria-prima para esculturas artesanais, móveis, artefatos culturais e verdadeiras obras de arte.






Pisamos o solo pedregoso, dourado e às vezes avermelhado, queimado pela luz do sol. Percorremos as curvas sinuosas das altas montanhas, na cordilheira do Atlas com sua vida selvagem, sua flora exuberante, seus picos, que no frio podem estar forrados pela neve, e que ultrapassam o tapete branco de nuvens que forram o céu. A névoa e a brisa fresca agora cobrem o extenso litoral, a areia da praia e o mar, enquanto que o ar carregado de mormaço, de poeira e de areia do deserto estão cobrindo as ruas de Marrakech, ou Marraquexe, e suas casas de muros avermelhados.









Marrocos é um país de contrastes, não só pelo seu clima, flora e fauna, mas também pelas influências culturais de vários povos: os berberes ou Amazigh, povo originário deste país, tido como um dos povos mais antigos do continente africano; os árabes; os africanos subsaarianos; judeus e os europeus que ocuparam o país por um certo tempo (portugueses, espanhóis, franceses). Marrocos teve sua independência reconhecida pela França em 1956 e hoje em dia seu governo é uma Monarquia Constitucional.

O Reino de Marrocos está na região do Magrebe, cercado ao norte pelo Mar Mediterrâneo, ao oeste pelo Atlântico, ao sul por Mauritânia e Saara Ocidental, e a leste por Argélia. Tem grandes extensões de seu território coberto pelo deserto do Saara.

Dessa vez não entramos no deserto, pois esse passeio deve ser bem planejado antes e com tempo, além disso no verão as temperaturas são altíssimas. Existem passeios para Arfoud ou Erfoud, que é um grande oásis no deserto; para o deserto Merzouga e também Zagora, que é uma parte do Saara; dizem que é belíssimo o pôr do sol visto dali, com certeza valerá a pena aventurar-se. Na cidade de Marraquech a temperatura chegou aos seus 45° e um pouco mais, realmente "infernal" para quem não está acostumado a altas temperaturas.




Mas não nos deixamos abater e seguimos com nossa caminhada. Entramos pelos Souks, ou seja, mercados típicos marroquinos, onde muitos artesãos estão vendendo seus produtos e até mesmo trabalhando o couro, o cobre, a prata, fazendo jóias diante de nós, nas diversas oficinas.









Vemos tecidos, cestas, tapetes, sandálias, vestimentas, temperos, ervas, cristais, óleos aromáticos, afrodisíacos, candeeiros, louças, mobília, comidas típicas, suco de laranja natural bem baratinho e de outras frutas, frutas secas, tâmaras, nozes, produtos feitos com a borracha de pneu reciclado, trajes tradicionais como o kaftan (uma túnica usada principalmente pelas mulheres) e o djellaba (uma túnica larga com ou sem capuz para ambos os sexos) e chinelos marroquinos chamados babuchas.






Essa infinidade de mercadorias são oferecidas pelos vendedores que amam a arte de negociar. Depois de uma longa negociação, com muita simpatia, lábia e também uma alta dose de insistência, comerciante e freguês chegam a um acordo selado com um aperto de mãos, ou se despedem um pouco decepcionados ou até mesmo chateados.

Geralmente nos souks, os produtos não vêm com etiquetas de preço, o vendedor pergunta ao freguês: "Quanto você acha que isso vale?" Então se a oferta for baixa, ele aumenta e começa a negociação. E se o preço do vendedor for muito alto, a regra então é pechinchar até que ambos fiquem satisfeitos. Não vou negar que isso pode chegar a ser irritante para alguns turistas sem muita paciência que visitam o país pela primeira vez. Até com os taxistas o esquema é o mesmo. Para uma mesma distância, alguns podem cobrar 60 Dirham (moeda do país) e outros cobram 20 Dirham, por exemplo. Mas também existem os preços tabelados em lojas e em outros mercados.


Pensar em África não é pensar só em aventura ou no temor ao desconhecido, é mais que isso, simplesmente é pensar no berço da humanidade, solo de nossas origens... talvez por isso tenhamos a sensação de que carregamos conosco muitos de seus mistérios. É como se pisar neste solo fosse uma experiência de "déjà vu"...de algo já vivido. E é nessa busca constante do Homem pelas suas raízes, que foi encontrado em Marrocos o fóssil mais antigo da espécie Homo Sapiens que se tem conhecimento, em Jebel Irhoud. Mas lá nós não estivemos...

Esse país tem mesmo um encanto, como uma antiguidade que carrega consigo uma magia inexplicável, uma história a ser descoberta em cada esquina, em cada forma e cor dos zelliges (um tipo de mosaico cerâmico) nas paredes e em sua arquitetura, em cada aroma e em cada sabor especial da sua culinária, em cada olhar descoberto das pessoas que transitam no burburinho da praça, com uma burca ou com roupas de verão, com lenços na cabeça ou com os cabelos soltos.

A suntuosidade dos palácios contrasta com a simplicidade dos vilarejos e bairros habitados pelo povo mais pobre e humilde que faz da necessidade uma fonte de criatividade e de descobrimentos. O antigo e conservador convive com o novo e moderno, mais aberto para o mundo.

Esse encanto não pode ser explicado, só pode ser captado por nossos sentidos que ficam muito aguçados diante de tanta diversidade e exuberância, diante da fusão de elementos ocidentais e orientais, diante desse conto de mil e uma noites que não tem mais fim.


A seguir cenas do próximo capítulo...





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